sábado, 15 de maio de 2010

MONTE CRISTA, 1º DE MAIO DE 2010


Sábado, 1º de maio, feriadão de sol, céu azul e um agradável friozinho de outono. Quase um ano depois da última vez que subi o Monte Crista, esta parecia a oportunidade ideal para voltar lá. Como a idéia veio meio em cima da hora, na sexta à noite – depois que a patroa falou que teria que trabalhar no feriado – optei por fazer um simples bate-volta, sem o peso do equipamento completo para acampar. Também pensei que assim poderia ir mais longe, talvez até as proximidades da antena, aos 1525 m. Ledo engano.

Os maus presságios vieram logo no começo. A ponte estava em reforma, tinha apenas uma trilhazinha de duas tábuas e ainda estava com uma leve inclinação. Faltaram os fanáticos religiosos pra me sentir no final de “Caçadores da Arca Perdida”. Depois de vencer este obstáculo, na travessia do pasto, dou de cara com um bloqueio bovino que subitamente me encarou como se eu fosse um inimigo a ser batido. Não é de hoje que eu tenho problemas com vacas, já fui posto pra correr em uma ocasião no Jurapê, com direito a um salto acrobático em uma cerca.

Depois de desviar os terríveis animais, segui com minha caminhada pela trilha. E assim como na vez passada, em junho de 2009, não foi fácil arrastar morro acima esse pobre corpo, castigado por anos de pizzas e chocolate, além da ociosidade de quem trabalha 10 horas diárias em frente a um computador e repousa no sofá em frente à TV, assistindo a episódios antigos do Pica Pau (marche!)

Mesmo tratando-se de um bate-volta, diferente da investida anterior, quando fui para acampar, novamente foi evidenciada minha falta de preparo, minha fraqueza, tanto física quanto psicológica.

E quando menciono a questão psicológica, refiro-me a uma situação que passei em 2009. Num trecho próximo do cume da montanha, saindo do trecho de mata fechada para alcançar os campos de altitude, já exausto, fui acometido por um forte desânimo, frente ao meu baixo rendimento. Uma terrível vontade de chorar feito uma menininha durante meia hora, fazer a voltar e correr para casa. Claro que a palavra ‘correr’ nesse caso é mera força de expressão.

Lembrei então de um acessório indispensável nas minhas pedaladas, e que estava na mochila para me fazer companhia durante a solitária noite na montanha: meu mp3 player! Subi o restante da montanha ao som de uma seleção de músicas que variava entre Mano Lima a Pink Floyd e Iron Maiden. Até guitarra imaginária eu toquei no caminho. Foi notável o efeito positivo que a música teve sobre meu rendimento na caminhada. Claro que não subi o resto do caminho correndo, mas o ânimo injetado pela música mandou o espírito da menininha embora e me ajudou a atingir meu objetivo. Inclusive no prazo que eu havia previsto, seis horas da travessia do rio Três Barras até o ponto que eu conheço como pedra cabeluda, ou cabeça do Robert Smith. Infelizmente a pedra foi escalpelada há certo tempo já, mas o nome continua.

E agora, nesta nova empreitada, mais uma vez a menininha chorona parecia querer se apossar da minha vontade e minar minhas forças. E desta vez não tinha a música pra me ajudar. Pra piorar, não me alimentei direito e assim fiquei fraco física e psicologicamente. Chegando ao platô próximo do ‘mapa’ e da entrada da antiga caverna, percebi que havia levado tempo demais neste trecho e não teria como seguir com o que havia planejado. Fiquei por ali mesmo, apreciando a paisagem, o som do vento e do rio correndo pelo vale em meio à mata fechada, os pássaros que cortavam o vento como aviões a jato e o calor do sol, que a essa altura já estava passando do limite do calorzinho agradável e ganhando status de calor infernal.

Como eu já havia chegado lá em cima debilitado, a descida não foi muito diferente. O detalhe fica por conta do pessoal que fazia uma espécie de sessão esotérica, na junção da “Saboneteira” com o “Caminho do Rio”. Formava um círculo, que eu atravessei sem muito constrangimento, e falavam sobre as boas energias emanadas pelo ‘Vigia’. Talvez se eu tivesse passado por ele, suas energias teriam espantado o espírito da “menininha chorona”.

No estacionamento, o socorro – meu pai – já me esperava. E assim terminou mais uma aventura no Monte Crista, seguida de uma nova promessa de mudança de hábitos para que na próxima vez eu não sofra tanto. Agora vou lavar a taça de vinho, guardar o que sobrou do cachorro quente, terminar com os últimos bombons e dormir.

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